sábado, 24 de outubro de 2009

Sonhos para pandeiro

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Meu sonho, meu medo, meu segredo
é partir sem saber se vou chegar
olhar para trás não ter saudades
fechar a porta, o paladar.

Calar e não ter como gritar
é medo, é morte, é sobrevida
é pegar o bonde na esquina
é partir sem saber se vou chegar.

Cruzar asfaltos, oceanos
lamber línguas e sambar
é sonho, é forte, é tempero
salgado-doce ao paladar.

Contar histórias, fim de curso
segredos, mosaicos de uma vida
é sentir-se de novo na colina
é sonhar sem medo, é recordar.

Meu sonho, meu medo, meu segredo
é partir sem saber se vou chegar.

Meu sonho, meu medo, meu segredo
é partir sem saber se vou chegar.




Lou Vilela 



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* Meus caros, peço desculpas pelas raras visitas que tenho conseguido fazer aos blogs que sigo. Espero que o temporal passe logo! Abraços em todos.

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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Bastidores


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Aquele bloco carnavalesco
bem se adequa às minhas fantasias
[pomposas fantasias]
brilhos, lantejoulas, paetês
um bastidor sacrificado
muito suor de ofício
nada remunerado
moto-contínuo paixão.


Instantes de glória, eu sei
pés pelas ruas da cidade
gente aplaudindo, dançando
risos de material reciclado
púrpuro desespero remendado.


Aquele bloco sou eu
estandarte em punho
humildemente perfeita
em meu apogeu
sobriamente desfeita
quando a realidade bafeja.


Lou Vilela

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terça-feira, 20 de outubro de 2009

Além do sutiã

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Arte: Rafael Nobre



Sonhava-me liberdade,
necessária, controversa,
clara pele da noite.

Sonhava-me coragem,
camuflado medo,
na escuridão de um sim.

Sonhava-me puta
no calor, no afã
e santa ao comer a maçã.

Sonhava-me o direito
com ou sem sutiã
de rasgar rótulos.



Lou Vilela





segunda-feira, 12 de outubro de 2009

mais um...


Meus caros,

Hoje tem um poema meu no "Maria Clara: simplesmente poesia". Se quiserem conferir é só clicar aqui.

Beijos,
Lou

domingo, 11 de outubro de 2009

Labirintos II

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Picasso - Mulher ao espelho


Entre um devaneio e outro enveredo por um labirinto de sensações. Percebo a proximidade do monstro fabuloso! Desesperadamente, tento encontrar o caminho, mas a cada passo o temido monstro se materializa. Sinto a sua respiração ofegante cada vez mais próxima... Em um lampejo de lucidez surge, no espelho, o reflexo. Enfim, a saída!


Lou Vilela



Este texto também foi publicado no "Blogstórias Essencias", da queridíssima Fátima Campilho, e no "Balaio Porreta 1986", do mestre Moacy Cirne. Obrigada aos dois pelo presente!
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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Além da margem

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Os poetas que me habitam
ao mesmo tempo me corroem
pela incapacidade de dizer.

Sou! e isso é bem mais
do que cabe em linhas.


Lou Vilela


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domingo, 4 de outubro de 2009

Limítrofe

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Era temporada de uivos...
os lobos inquietos a devoravam.

Rasgou o sudário e mergulhou
na densidão da noite
: um ritual de passagem
para a vastidão de ser.


Lou Vilela



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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A lista

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A folha acabara de se desprender e cair.
Secaria ao sol antes de adubar a terra.


As cinzas que saíram das fornalhas
também flanaram até o chão,
terra que as acolheu sem restrições.


Aos urubus atrozes de pura casta
um sorriso verde.



Lou Vilela


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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Nau da vergonha


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Escravos em um porão de embarcação



Aquele cheiro
[misto de suor e fezes]
me enjoava.
Os grilhões rangiam

ensurdecedores.
Precisava de amanhecer
sacudir em ondas e ser devorado.
Gritar, enfim, liberdade...
Liberdade!


Lou Vilela

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